O guardião das redes


Não vos disse ainda, e estranho não tê-lo feito, mas o meu filho mais novo decidiu mudar de posição no campo de futebol de 7. Ele joga no Futebol Clube de Alverca e esta é a sua terceira época enquanto atleta federado. Esta longevidade vence por KO aquela a que um treinador do Sporting alguma vez possa augurar. Dizia eu que o rapaz mudou de posição. Era defesa central e agora é guarda-redes (no Brasil diz-se goleiro e no Sporting frangueiro).

Eu estou em crer, e tenho até alguma ponta de orgulho nisso, que essa opção terá um pouco a ver comigo, porque é a posição que ocupei desde os treze anos de idade e pela qual ainda hoje estou fascinado (um dia falo-vos da minha passagem pelo futebol italiano, que nunca chegou a acontecer). Se eu já era um pai babado em relação a isso, agora ando totalmente inebriado com esta tomada de decisão que, digo-vos com a maior das sinceridades, é inteiramente dele. Devo até dizer que me enerva muito mais que ele esteja naquela zona onde a relva não nasce, porque sei, por experiência ainda que com algum exagero à mistura, que o guarda-redes nunca ganha jogos. Só os perde. No entanto reconheço que as coisas nem lhe estão a correr mal e, assim queira ele, poderão melhorar a cada treino e a cada jogo.

Rene Higuita
No que é que isto me torna? Naquele gajo que quer servir de guru ao seu rebento e que está carregado de ensinamentos técnico-táctico-físico-mentalo-paranormalitico. A parte técnico-táctica tenho-a deixado para os seus treinadores, que são quem tem essa responsabilidade e o conhecimento adequado. A mim compete-me explorar toda a componente mental afecta à função. É por isso que a primeira coisa que lhe transmiti com grande solenidade foi: O guarda redes tem que ter cara de maluco. Para mim nem foi difícil e é uma coisa inata. Mas para uma criança de 11 anos que nasceu bem mais favorecido que o pai nessa matéria, obriga a treino intensivo. Entre o trabalhar da expressão facial e o da verbalização de coisas sem nexo ao berro, há um longo caminho a percorrer.

Assim que termine esta parte, começarei com outro bloco: Nunca admitir a culpa na eventualidade do erro. Se o frango bater à nossa porta a culpa é sempre de outra coisa qualquer (excepto se for guarda redes do Sporting. Já vos tinha falado do Sporting?). Então se a bola passa para as redes por onde não devia a culpa é de certeza do estado do terreno, do sol, da iluminação artificial, das luvas, da velha aos berros atrás de um gajo. Nunca nossa! E mostramos a nossa indignação com tal afronta pela via do berro (cá está a verbalização), e do pontapé no poste, até romper as botas (... e a maluqueira).

No fundo aquilo que quero mesmo, é o rapaz se divirta a jogar, tanto ou mais do que aquilo que eu me divirto a vê-lo jogar. Boa sorte puto!

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