Podemos falar a sério?

Agora que muita água já correu debaixo do moinho, julgo ter chegado a altura de verter aqui umas quantas coisas que andavam guardadas na minha cabeça e também num caderno preto que me acompanha muitas das vezes. Sempre ouvi dizer que não se deve falar no calor dos acontecimentos sob pena de nos espetarmos ao comprido. Eu, por via da minha natureza inflamada, sempre driblei essa regra e largava petróleo na maior parte das fogueiras com que me deparava. Não há hipótese. Sou esse tipo de gajo. Desta vez até que me portei bem e resolvi seguir o conselho até acabar por me esquecer.

Hoje, por questões que nada têm a ver com isto, agarrei no tal caderno preto e descobri uma nota de apontamento aí registada no inicio do ano que agora temina. Lá diz o seguinte:

É revoltante e até injusto ver os brinquedos bons entregues a mãos inábeis. A sabedoria popular fala em dar nozes a quem não tem dentes. Aqui no pedaço em que me movimento dá ideia de que só quem fala mais alto e em bicos dos pés é que se coloca em posição de se fazer notar. Até podes ser aquele que mais aptidão tem para o uso do brinquedo, mas se fores silencioso e baixito, ficas destinado a arrumar a casa depois da brincadeira dos outros. Volto a usar a voz do povo, sempre sábia, para definir este estado das coisas: Mais vale sê-lo que parecê-lo. Ou talvez o contrário disto se adeque melhor aqui.

Mas isso não me consola mesmo nada. A incompetência é recompensada e o melhor show-off premiado. Os que se remetem ao papel de participantes passivos arriscam-se a ser banidos. Um não-alinhado é algo que ninguém quer ter nas suas fileiras e necessita ser eliminado.
Em tempos escrevi que a nossa consciência é a nossa melhor arma de censura. E acrescento: Se assim não fosse seria impossível viver determinados quadros da vida.

Apeteceu-me deixar isto aqui hoje. Vai haver quem me entenda. Vai haver quem me entenda, mas que vai fazer que não. E vai haver quem me entenda e continue a falar alto e em bicos dos pés.

Comentários

  1. Amigo lembrei-me dos seguintes provérbios de um gajo desconhecido e silencioso, quiçá um dos não-alinhados:
    - O barulho abafa os erros...
    - Os cínicos sempre se deram bem na Vida...
    - Quem pouco faz erra muito menos...
    Abraço do gajo sem MEO.

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