Pensamento em altitude

Eu sou um tipo fascinado pelo mundo da aviação. Por tudo o que voa, desde os pardais de telhado, passando pelos aviões a jacto, os de hélice, acabando nos de papel... higiénico. Sou tão fanático que em plena auto-estrada quase paro o carro quando passa um desses passarinhos sobre mim!
Mas há de facto situações que me acontecem só a mim, de cada vez que preciso de viajar: se o detector de metais apita... sou eu (que culpa tenho eu de ter chumbo nos dentes?... Ou de ter uma placa metálica no cérebro?...); Se há um voo atrasado 6 horas... é o meu; se está uma mala extraviada algures na Tanzânia quando deveria estar em Lisboa... é a minha; se há uma senhora forte, daquelas que ocupa todos os três lugares A, B e C, da fila 7... o meu lugar é o da janela (SOCORROOOOO! Porque será que está um gajo na placa lá fora a apontar na minha direcção e a rir-se com os colega? Será por eu ter ambas as orelhas coladas ao mesmo vidro?...).
Contudo há depois outros imponderados que são comuns a todos os voos: Já repararam que, sempre que são servidas as refeições, é quando a turbulência se intensifica? Não há volta a dar! Assim que vamos pôr o Bordeaux à boca (sim porque só nos aviões é que a malta bebe Bordeaux, porque em casa o que se bebe mesmo é das garrafas de cinco estrelas), lá vem um solavanco e lá ganhamos uma medalha nova na roupinha de Domingo! Porreiro. Eu até acho que as hospedeiras deveriam agir assim:
“Senhores passageiros, dentro de momentos iremos servir um pequeno lanche pelo que já sabem que devem por os vossos babettes e rezar para que o passageiro ao vosso lado não seja nervoso em alturas de turbulência. Boa sorte e obrigado”.
Isto leva-me a conjecturar algumas teorias: será possível que isso aconteça sempre assim, acidentalmente?... Sinceramente não me parece. Leva-me a crer que a coisa se passa de forma planeada. “E por quem?”, perguntam os mais curiosos. Pelos pilotos, claro. “Porquê?”... Vocês estão a ver o que é um daqueles voos de 10 horas, super chatos, em que não se passa nada? Já pensaram bem sobre o que é passar esse tempo todo a olhar para uma porrada de botões e mostradores e em piloto automático? Acham que os tipos estão lá os dois fechados, dentro do cockpit, a jogar à sardinha? Naaahh!... A fazer apostas! Ah pois é! Apostas sobre quantos gajos é que vão ficar todos cagados durante a refeição!
E depois lá vêm as indicações:
“Boa tarde, senhores passageiros, fala-vos o vosso comandante. Estamos a voar a uma altitude de 20000 pés (será que os contaram?), a temperatura exterior é de menos 50º Celsius (Ainda bem que as janelas não abrem!). Estamos a entrar numa zona de turbulência pelo que recomendamos que permaneçam nos vossos lugares (onde é que posso ir com um tabuleiro ao colo?), e com os cintos de segurança apertados. Muito obrigado pela vossa preferência e apreciem a vossa refeição.” E depois em off: “... que a malta aqui vai rir à brava com as acrobacias aéreas.”
E depois lá começam eles naquela maluqueira: Vruuumm para a direita, vruuumm para a esquerda, e para cima, e para baixo, agora um looping!!! Yu-uuh!! Às tantas o pessoal anda todo misturado uns com os outros. “Desculpe se a minha couve foi cair logo em cima da sua careca”...


Mas o avião é também uma coisa extraordinária. Não só porque encurta as distâncias, mas pelo serviço que se presta a bordo. O pessoal é sempre de uma simpatia e de uma prestabilidade a toda a prova: Chá ou Café?... Tinto ou Branco?... Carne ou Peixe?... Mastigado ou por mastigar?... Excelente!
E há de tudo dentro de um avião. 20 qualidades de refrigerantes, desde a vulgar cola, passando no sumo de laranja e acabando no de nêspera, 500 marcas de cerveja, 1500 tipos de refeições para todos os gostos, porradas de utilidades tais como pastilhas, canetas, blocos de notas, cobertores, almofadas, tabaco, perfumes, bombas-relógio... eu sei lá que mais!
É caso para dizer: “Aqui há de tudo como num avião!” A frase soa a familiar, não é? Mas se compararmos o avião com o bem progenitor da máxima, a Farmácia, o avião dá-lhe de 10-0, como se diz no Brasil. Melhor será dizer: “Nesta Farmácia há de tudo como num avião!”
Mas até isso é mentira. Chegue à farmácia e experimente pedir um Whisky... no avião pode. Aproveite e peça um volume de Marlboro’s... no avião pode. Agora seja mais específico e peça uma Aspirina, na farmácia... no avião também pode! Isto só me leva a alvitrar que, todos nós devíamos ter um avião no nosso quarteirão, no nosso bairro, se não no nosso quintal.
“Ó Quim Mané, vai ali ao 747 buscar cerveja pr’ó cabrão do teu pai, que no supermercado já não há.”

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A minha árvore de natal faz-me crescer

Breaking News